tag:blogger.com,1999:blog-88671982981619042902023-11-16T09:21:44.937-08:00Um Tal de João Qualquer CoisaEvandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.comBlogger31125tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-70485765033193416852012-01-06T04:13:00.001-08:002012-01-06T04:13:15.781-08:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ainda visito a casa dali de baixo. Noutro dia coloquei uma escada de ponta-cabeça, já que dela não preciso subir. Às vezes levo alguns pratos, outras vezes levo a poeira dos dias, as moscas e as feridas. Sento sempre perto da janela que vive entreaberta, como se deixasse quase nada passar, e deixa tudo lá dentro diferente. Quando o sol atravessa a garrafa faz desenhos no chão que tendo descobrir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Vou pouco, porque tenho vergonha. Vez ou outra, saio antes do santo estender a mão. Certo dia correu até a perto, repousou uma das mãos lá no alto do batente e ficou a me olhar. Não disse nada, mas revelava aquele semblante de interrogação. Eu não sei, porque não vi, corri sem virar pra trás. Só parei quando encontrei aquelas duas flores que nunca sei se devo passar entre elas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eu sisudo é como aquele último gole que só uso eventualmente. Todas as garrafas ficam pela metade porque às vezes podemos decidir o que acaba.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-89418399313192853522012-01-04T05:14:00.000-08:002012-01-04T05:15:01.478-08:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não largo a enxada, não paro de cultivar. Por vezes só as vejo crescer, quieto, tragando o fim do dia e baforando essas cinzas para longe de mim. Não que eu pare – impossível – mas as botas encostadas naquele resto de parede só dizem que meus pés coçam a lama lá de fora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ainda vejo descer as estrelas quando encosto as costas no tronco do meio da sala. E finjo acreditar nos olhos por trás dos muros, surrupiando em algum buraco este meu nada. Inquieto-me. Mas nada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Lá no canto algumas <i>Viola tricolor L</i> quase sem querer. São assim sem cultivo nascendo despercebido, teimando em chamar minha atenção. Quando canso não rego. E ando por cima delas com a cabeça quase alcançando o teto, onde escondo as pedras sobre as ripas, pra que me sirvam no dia de não-sei-o-que.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas não paro, ainda que finjo. Todo esse lixo deixo pros homens que passaram correndo. Noutro dia inventei de colocar tudo em papel-presente e ninguém levou.<o:p></o:p></p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-50859728710544824462012-01-02T15:20:00.000-08:002012-01-02T15:21:13.967-08:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Esse silêncio incômodo de todas as noites, desses pássaros que dormem, e dos amigos que fogem, me entortam os olhos a rabiscar na caixa de areia que roubei outro dia da praça, pra ver se planto coqueiro e invento um dia de sol.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas há sim o silêncio, quase quieto, que teimo em atrapalhar com uma tosse fingida pra alguém escutar. E se outro soluça, finjo não ser comigo, teimosia em desconfiar de todas as poucas folhas que caem, achando que alguma o fez de propósito.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Vivo subindo na parede, me deixando de enfeite pra ver se de repente me encho de pó. Já fiquei dias sem me mexer, mas agora há sempre o que colher, mesmo que frutas verdes ou folhas passadas do tempo. E se essas vão com o vendo, me permito também.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-28905135726446250412010-08-26T05:32:00.001-07:002010-08-26T05:32:43.850-07:00<p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Já me cansei dessa cor nauseada da alface que quase esqueci de regar.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Distante desta fase de um turbilhão de pessoas que passam despercebidas sempre se lembrando de si próprias açucarando a aba do chapéu com um aceno sem cumprimento algum.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Me tranco na rua, donde posso ver todos, escondendo-se de mim mesmo.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Empaco numa mula manca que eu comprei pra que suba aquele monte.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ela já o faz sem ordens, e quase sempre me esquece por aqui, perdido nessa rotina que não sei onde larguei.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>De lá vê o sol nascer até quase de tarde e de onde quase nunca volta.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mas já me acostumei a procurar somente os discos voadores de cores trocadas.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Na quarta servi o vinho num saco de pipocas enquanto via as formigas calçando as botas antes mesmo de tira-las.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Mas ainda estão todos aqui perdidos ao meu lado, trombando-se e falando ao mesmo tempo.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Não te dou atenção enquanto olho pra você.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mas sei que te planto e quero ver-te crescer, ainda que pinte as tuas folhas verdes de laranja e ande sempre de costas e com esses óculos que não me deixam ser.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-24870962938688980732010-08-16T06:27:00.000-07:002010-08-16T06:29:15.135-07:00<p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify"></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Não me queira mais do que já posso ser.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Despeço-me do meu corpo quente, delirando nu num passeio até o lago. <span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mas dele, quase nada.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Rego tranquilamente suas margens, podo as pedras e colho a lama densa que se forma em dias quase escuros.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Desço até perto do muro e me encolho.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Finjo fugir do frio que faz, enquanto observo tantos “efes” se espalhando pelo quintal.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Alguns me cutucam enquanto me distraio com as vozes passando vagarosamente pela rua.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Coço meus pés e pernas, sujas com qualquer coisa que desconheço.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Perco-me de todos que se ausentaram e que continuam aqui escondidas duma forma que somente eu as reconheço.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Não chamo sua atenção, mas toda noite despeço-me de cada um, ainda que ninguém saiba.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mas a mim basta o “bom dia” do outro dia que deveria receber.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Se são folhas ou flores eu quase nunca sei.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Gota-de-orvalho sempre seca que nascem debaixo do que restou da outrora capela que agora jaz de cabeça baixa, sorrindo ainda algumas poucas liturgias.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Outro dia cruzei com um santo que fedia lágrimas.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Cambaleava enquanto carregava um saco cheio.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>De mal humor, ou com a costumeira preterição, passou sem nem me reconhecer.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Tanto faz, porque também não sei o que lá fazia.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Atravessei o quintal novamente e voltei ao ignoto ventre que escondo entre os livros que me leem.</p><p></p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-85346952829506465252010-07-30T06:53:00.001-07:002010-07-30T06:53:31.261-07:00<p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Abri os olhos.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Dei três tapas num sol que piscava desfocado até que tudo ficou claro.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Cumprimentei um gato que passava ali. Visita meu telhado frequentemente e, vez ou outra, despenca por onde sai o baobá.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Descolori alguns tomates sem assuntos, quando desses dias que seguem, simplesmente por não poder ser diferente. E chove.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">As manhãs sempre começam com esse cheiro constante. Às vezes isso me alegra, noutras somente uma ânsia.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Os pássaros que cantam, as folhas que caem e essa lama que se espalha.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Preguiçoso, de quando em quando vou conferir se não esqueci meu corpo esparramado pela cama.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Outro dia troquei as portas de lugares, só para me distrair procurando-as.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ontem, cansado da brincadeira, fingir não a ver por trás da cortina.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Sorri enquanto tudo estava bem.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mas só enquanto isso...</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Acho imperfeitos os dias compridos que logo se espreguiçam com cheiro de café.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-66296941212574262722010-01-21T03:27:00.000-08:002010-01-21T03:28:19.116-08:00<p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Comprimi a distância errada que existia desde o último dia.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Não duvidaria dessa noite apressada, que quase terminou sem nem mesmo ter os olhos fechados. <span style="mso-spacerun:yes"> </span>Insistente, mesmo com o cisco inconveniente a atiçar meu egoísmo.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Troquei as lâmpadas escuras por estas mais claras.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Durante o dia as cubro de ciúmes, quando não são as mariposas.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ainda que não ouça, tem gente passando ali fora, balbuciando algo como se numa procissão.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>De pressa reza sem ter o que contar.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mas não faz mais diferença.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Sobre a mesa qualquer vela acessa.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>E eu nem cheguei a perceber.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Assim o babobá cresceu.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>E seu eufemismo é maior do que o meu.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Tenho anel no dedo direito que o vento curva como num conceito.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Sou feito de fé: ateu.<span style="mso-spacerun:yes"> </span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Sons que embrulham o estomago, rimas como de criança que balança num pneu sob seus galhos, enquanto crescem e tomam toda a casa. <span style="mso-spacerun:yes"> </span>Aninho-me em tuas raízes, querendo-te derrubar.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mas não me ouso.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Aqui sou eu o oco, e você de folhas verdes, cheias de sede.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Seis meses, e eu somente a te mijar.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Basta a ti ficar em mim.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Daqui debaixo de você, nem chapéu preciso.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Se sismo, compro um picapau.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-73256880661921273862009-10-30T04:23:00.001-07:002009-10-30T12:37:46.254-07:00<p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Seria qualquer coisa se não fosse exato. Ainda assim não tem nome ou espaço. Apenas algo vago que vejo refletido através do copo... Mais um gole. Aperto minhas vistas, insistindo em fingir não ver.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Troco da lâmpada para o sol, comprometendo-me, ainda, com o silêncio do dia que mal começou.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ameaço não vê-lo e chego até a me despedir. Mas recuso a reclusão também.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Uma volta em tudo que ficou largado. Ainda não sei se gosto desse cheiro de podre que ficou, do espantalho que agora vive a sorrir, com cara de bom moço, roupas quase limpas, agachado perto dos tomates - que nem se coram mais quando me vêem -, torcendo a meia encharcada ou, ainda, desses pássaros que comem tudo apressados, fingindo não haver nada ali. </p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Uso as mãos para começar a cavar a terra.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Perco-me de mim, e só paro quando o dia já havia se despedido há algum tempo.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Forro tudo aquilo com pequenas pedras que vou recolhendo sem pressa.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Uma após a outra, enchendo os bolsos da calça, da camisa e até o chapéu.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Uma ou outra escondo dentro do sapato.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Quando termino sento em uma das bordas, torcendo pra que chova incontrolavelmente e encha o lago recém criado.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:6.0pt;text-align:justify">Ainda não sei se poderia ser alguma coisa.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Tampouco pensei.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Esqueci tudo de esquisito dentro de mim.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mas ainda assim pode ser.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ascende um fósforo que não queima, e a chama... Não, não vou.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mais um gole e aquilo ali, ainda assim.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-75280684902974233592009-09-15T09:30:00.001-07:002009-09-15T09:30:58.250-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nem todos os caminhos são limpos pelos passos arrastados, cheios do peso inconstante do repentino solavanco da cabeça, que bebe, gira, bate e pensa... pensa repetidamente, deixando escapar vespertinos receios.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Algumas poses para os tomates acanhados que há meses não perdem sua cor. Enquanto sento no muro, observando a rua. Por lá sempre passam duas pessoas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ainda tomo meus comprimidos, mesmo depois de curado, almoço sempre sentado no meio do nada, como apressado. <span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ando de lado quando não sei pra onde ir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Me assombra a alegria da tarde, o cheiro de café torrado, as flores que giram como se fosse primavera, a água que ondula, arrastada pelo vento que não sobra. Os cabelos molhados, a casa torta, o canto que vem dos pássaros sempre que as vozes se calam. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E lá se vão os dois, como se fossem sozinhos. E eu cá, como se nunca estivesse. Conto onze clichês para cada passo dado, e um bocado de insanidade pra acabar com o que havia traçado. Talvez já se baste uma por diferença.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Anoto o sonho e escondo o papel. A idéia é não acordar, ou descobrir que nunca estive sonhando.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com23tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-69936618721066598162009-09-08T05:56:00.001-07:002009-09-08T06:07:33.880-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><p class="MsoNormal">Despejo-me conscientemente do que vestia.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Sinto frio, um arrepio sussurrando pelo corpo sem trajes. Assoviei uma melodia repetidas vezes, até que de fato grudasse no meu ouvido, e não precisasse mais usar a boca.</p> <p class="MsoNormal">Enfileirei o gnomo que sobrou com alguns montinhos de barro, fingindo serem soldados num desfile, que descia em volta de toda horta, exibindo armas feitas de gravetos. Sem jeito, tropecei por cima de alguns, que não demoraram a atacar-me no calcanhar.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Deitei ao lado de um saco de mangas e das rosas nascendo, ainda em botão, engolindo certas doses de cheiro bom. Mão no coração, outra tampando os olhos, fluindo ainda aquela canção.</p> <p class="MsoNormal">Poupei o resto do tempo dos meus pensamentos. Reprimi um espirro. Tingi meu corpo de vermelho enquanto olhava-o no espelho. Não era bem nada, minha mente voava. Nem mesmo sei se não era outro eu. Ou alguém que não reconheci e me espiava. Era puro engano. Talvez isso. Porque todas as incertezas já foram ditas, e a verdade ainda se vestia.</p><p></p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-28248406636506077922009-08-28T05:23:00.000-07:002009-08-28T05:25:29.113-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Hoje o dia desiste de acordar. Com os olhos cheios de névoa, tremula na cama descoberto, com preguiça, como se insista em ficar deitado, tentando um sono desesperado, mesmo com os ruídos lá de fora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Saio para a horta na ponta dos pés. A cada tropeço olho para cima, vigiando pra ver se o barulho o fez acordar. Suspiro aliviado quando o vejo virar de lado com um bocejo. Sento-me ao lado dos brotos de batata e as nuvens de mãos dadas. Observo, como se um olhar fosse suficiente, recusando-me a me mover. Meus pensamentos se perdem quando dobram a direita, logo após a estreita passagem que fiz, para que só se passe pulando num pé.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Plantei algumas sementes de baobás na casa, entre a sala e a sábia imagem presa em madeiras de oliveira, perto da parede que arranquei, e de outra, ainda lá por descuido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Coloquei o chapéu, a barba, minhas botas de pés descalços, atravessei o quintal e me sentei num degrau, observando-o acordar, num soluço.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-86578725669700605012009-08-24T10:12:00.001-07:002009-08-24T10:12:10.391-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Com o tempo me acostumei com o barulho do vento que entra sem parar. O frio é companhia inestimável, já que faz abraçar-me em um quente conforto. Sem outros laços apertados, confundo-me neste interminável ‘eu’, distante do copo, do fogo, diante do violento espaço oco do vaso de flor, que teima um perfume entre o cheiro e a lembrança.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Acho que vi um dos gnomos sentados por ai. Óculos fortes, garrafa vazia de coca-cola na mão. Era como se olhasse para mim, e para o nada ao mesmo tempo. Passei olhando de canto, como se não fosse comigo. Nem insisti em voltar, talvez pra não ter que puxar assunto, ou atrever um simpático ‘bom dia’. Como se fosse necessário.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ajoelhei-me diante da casa, sob a sobra da árvore. Fechei os olhos, juntei as mãos e traguei fundo o cigarro entre elas. Depois outro. Deixei-me ignorar pelo nada que acontecia em minha volta. Escutei cada ausência de barulho e me irritei com aquelas vozes inexistentes. Acabei por me desconcentrar. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Cocei a orelha enquanto voltava. Quando cheguei, já estava vermelha. Mal vi que já havia acabado.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-14709411458060559442009-08-18T07:23:00.001-07:002009-08-18T07:23:32.427-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Risquei, numa folha da árvore caída ao chão, um mapa marcando as moedas escondidas. Tive medo de esquecê-las, como tantas outras coisas jogadas aos cantos, fingindo disfarçar quando me vêem passando apressado, de um lado ao outro, devorando o piso sem perceber.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Tomo um trevo de três folhas, que nasce escondido no canto da casa.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Rasgo uma de suas folhas, para que se tornem quatro, fingindo uma sorte qualquer, burlando a extraordinária verdade aflorada entre os goles ambiciosos de olhos atentos do outro lado da rua.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sorri amareladamente, correndo pra me esconder debaixo dos cogumelos.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Desce quase queimando a garganta.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Paro e espero.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Saio cantando em línguas estranhas. Sem romãs ou travesseiros.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Com um pé no chapéu, dedos virados pra trás, fumo um charuto dentro do cachimbo, um muro que atravesso com uma das mãos.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Por descuido um ruído me distrai.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Um fio de cobre balançando ao longe.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-82319921604915242882009-08-13T04:22:00.000-07:002009-08-13T04:23:01.133-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Lambi-me tal como um gato.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Tentava tirar de mim esses dias carregados de distância, feito olhos de cereja, escorridos como rios vazios, que só vive uma estação por ano, deixando pro resto as pedras soltas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Desisti dos santos de barros também, que de mim tiravam o primeiro e, às vezes, o último gole, já com a mão adormecida, deixando que tudo caísse sem perceber.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Fiz dois gorros de folhas catadas por ai, umas verdes, outras amarelas, e botei neles.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Viraram gnomos no meu jardim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não sei bem se grito para ouvir o eco nessa casa, ou simplesmente me apresso, cuspindo cinco ou seis palavras a mais do que o recomendado.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mas ninguém as ouve, e o prato ainda calado junta moscas barulhentas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sentei despreocupado, depois de arrancar a janela, pra deixar o vento entrar.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Agora chega sem bater e nem me atormenta mais do que o frio que já faz aqui.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-16366975835767164942009-08-06T05:50:00.001-07:002009-08-06T05:50:26.912-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não transpirei uma gota de lucidez enquanto fechava o portão da casa atrás de mim.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Também não era bem portão, era feito de madeira de lenha que queimava de vez em quando para aquecer minha ignorância.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Às vezes construía outro. <span style="mso-spacerun:yes"> </span>Noutras, recolhia o que sobrava, sabendo que ali estava um pouco menos de mim.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Perdi-me enquanto caminhava de costas, procurando apontar aquilo que deixava pra trás, sorrindo enquanto soltava os espinhos do punho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Regurgitei algum sentido literário.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Eu era Samsa na sarjeta, sem sonhos inquietos, ou tanta chuva, numa curva suja, podre de restos sofridos de gente estranha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Cheguei ainda vendo de onde parti.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Não vi quem ali estava, não prometi nada a ninguém, tampouco me viram acenando com a boca ou mãos, qualquer coisa que poderia dizer algo.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Talvez nem tenham me visto partir, enquanto fingia que estava chegando.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-27268535648921461582009-08-03T06:25:00.000-07:002009-08-03T06:26:07.114-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Dormi quase uma semana, enquanto tecia alguns trapos que serviriam para cobrir meu corpo.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Fiz um rosto novo na parede ao lado, enquanto cobria o outro com um pouco do dia, que todo dia iria surgindo, sem calma.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Joguei algumas pedras dentro do meu sapato, calcei-os e passei a pisar firme.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Trancei a barba esquecida ali, a crescer, dançando meus olhos sob as pálpebras, procurando sobreviventes entre as faltas cometidas no escuro, sem procurar, dessas verdades fingidas entre um gole lúcido e o devaneio do pensamento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Iludi-me com tudo aquilo, transpirando ainda o cortejo, lembrando de mim esquecido, nesses dias, vestido de pele, com o frio alcançando os olhos destes que não me olham.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-29525866739077811842009-07-28T08:01:00.000-07:002009-07-28T08:03:18.779-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Simplesmente esqueci hoje o que ocorrera nos últimos tempos.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Esqueci de mim, de um bocado de gente, das coisas lá fora e do que restou aqui dentro também.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Não enlouqueci, tampouco misturei as poses repetidas nessas fotos sem gestos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Senti-me abduzido do que um dia fora, rastreando meus passos pela casa, através do pó marcado onde primeiro eu estivera. <span style="mso-spacerun:yes"> </span>Diante do espelho, chovendo não sei se dias, meses, uma gripe ou unha encravada.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Bastando uma vaga distancia entre mim e o teto.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Um vento querendo dizer algo irritante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Demorei um tanto pra perceber os vagalumes passeando.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ainda duvidara da luz pingando sobre meus olhos, dessa sensação qualquer, percorrendo-me todo, desviando do lado esquerdo e se refugiando calado nas pontas do dedo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Despedi-me de tudo, antes de começar a entender.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Fechei os olhos e me despi, disto tudo que acabara de me lembrar.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-40919301700595444722009-07-25T08:35:00.000-07:002009-07-25T08:42:46.613-07:00<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP88Mz0ylkhCcDUHYTj9uBKqbHim1i5C5E61t4CkGvgI-Xq7afdN7c8pUocMPyoD8yaj5ISUu-C48rfl3ISQAuVkzlQOzMxMiP3qbxoI-KtyQrPIi8THOca-I8KcuQxNVfXUzCvneiNiMY/s1600-h/zzzzzz.gif"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 134px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP88Mz0ylkhCcDUHYTj9uBKqbHim1i5C5E61t4CkGvgI-Xq7afdN7c8pUocMPyoD8yaj5ISUu-C48rfl3ISQAuVkzlQOzMxMiP3qbxoI-KtyQrPIi8THOca-I8KcuQxNVfXUzCvneiNiMY/s400/zzzzzz.gif" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5362423142200111282" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Há três dias construí uma casa debaixo da árvore.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Tenho medo de alturas e escadas.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Parece uma casinha de cachorro, no estilo barroco, fachada de gesso, altarzinho numa das paredes com dois santos que inventei com a lama lá de fora.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ajoelhei-me diante deles, mas não pedi nada, e nem agradeci, apenas achei o gesto bonito, ou outra razão não teria pra estarem lá, ainda que sem nomes, graças ou mantos.</div> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sem pecados, agarrei a garrafa com tanta força, que de mim quase foge.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Pude andar tranquilamente o resto da tarde, de um lado para outro, chutando as folhas e contando os passos, tomando goles daquele vento sereno de fim de dia, doses de sol que se despedia, sentindo seco pelo meu corpo o conhaque vencido, do qual me entregava, derrotado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Acompanhei uma procissão que se perdia por debaixo da casa.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Surdinamente o relógio foi dando voltas sem parar, até meus olhos sortearem uma hora qualquer.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Cochichei com umas duas que por lá passavam a indecência das que carregavam as rosas.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Arrotei faminto e me despedi, ainda de joelhos.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-24901237187638221232009-07-23T05:55:00.001-07:002009-07-23T08:14:23.572-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não me lembro da ultima vez que cuidei da horta.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Faz cem anos que não mando mais em minhas mãos.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ouvi vozes pela rua e sai junto com a lua.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Plantei sementes, reguei, acariciei as ervas crescidas – mesmo as daninha –, enruguei meu rosto e bati três vezes na árvore, como um tique que quis inventar.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Sorri debochadamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não achei vivas as janelas da casa, que lustrava com as solas da bota.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Tão pouco achei sorrindo o vento barulhento que não me deixava ouvir o ranger da porta, lubrificada com as pedras que botei para segurá-la.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Dali partira sempre alguns tomates.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Verdes.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Custava corá-los.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ainda que pudesse lhes contar horas e horas de qualquer história.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Partiam sempre, desejando de mim apenas para subsistência.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Todas as tardes me soltava para ver o sol se pondo por trás da casa, sempre num alaranjado, enquanto sentado à sombra de qualquer coisa por ali.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ainda que o sol se pusesse sempre pelo lado oposto, e que, nesta época, chova todas as tardes.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Eu gosto mesmo de inventar.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-16134152747531049782009-07-21T07:32:00.001-07:002009-07-21T07:32:21.734-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Quando me vi de olhos abertos, pude correr sem parar, sempre seguindo em frente, não importa se meu corpo tombasse para a direita ou, às vezes, para a esquerda.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Não era bem fôlego, nem mesmo uma fuga.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Não pude contar às voltas que dei na mesa.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Cruzei a cadeira umas duas ou três vezes, cumprimentando-a a minha maneira, mas não parei.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Uma arregalada terra girava cega, tonteando a casa térrea, as árvores, aquelas flores secas, um pássaro que berra, dilacerando o silêncio contido entre aquelas frases repetidas e o eco que não cessa.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Gotejando paciência, nesta latência corrupta, servos discrepantes da ironia repetida todo dia.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-54666172602014868142009-07-20T07:29:00.001-07:002009-07-20T07:29:38.821-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nem ao menos cogitei a idéia de abrir meus olhos.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Percorri com as mãos a pia, a água, o rosto, os espinhos da garrafa, o copo, que fazia arranhar pelo pescoço, descendo, como se subisse.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Fiquei ali parado por um tempo que não contei, evitei pensar, solucei, arranhei as unhas na cabeça.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Esgueirei minhas pequenas misérias de consciência para perto do calor.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Duvidava da clara vantagem de continuar de pé, limitando-me a uma coceira no tornozelo.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Tinha a nítida certeza de que algo continuará ali, ainda que de um tempo para o outro, tivesse fugido pela casa sem paredes.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mas não procurei... nem saber se era dia ou noite.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Abordei as moedas no pote de cima da geladeira.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Engatinhei até um canto qualquer, sentindo o vento frio batendo nas costas.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Afastei a terra com as mãos e enterrei o pote, as moedas e duas gotas de uma água escorrida, como brincando de pirata.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Espreguicei-me, dei tom à pele com lápis.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Pisquei os olhos.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-39065750639173995992009-07-16T06:09:00.001-07:002009-07-16T06:09:12.444-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sai para conversar com a rua.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Caminhei com as calças sujas, procurando pessoas, sem querer encontrá-las.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Evitei algumas esquinas.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Procurei acima do que se podia ver, como noutro dia, perdendo os dedos entre a barba.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">No bar meu copo pela metade, e era só assim.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Deixei meus olhos descansar sobre ele, como procurando qualquer resposta para as perguntas que eu não saberia fazer.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Bebi e não me preocupei se engolira de fato alguma pseudo conclusão, que se esvairiam dali algum tempo.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Pedi outro, também pela metade, para continuar pensando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não tive pressa de ir embora, mas cheguei muito antes que pudesse perceber, ainda com sede.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Fui dormir embaixo da cama, escondendo-me de todo aquele espaço.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-70917788304145636342009-07-14T05:34:00.001-07:002009-07-14T05:34:24.673-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Enquanto recolhia os restos das paredes ali no chão, recobria meu rosto com um suor ardido.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Dei fim a todos os encostos da casa, e pude beber da imensidão de todo aquele espaço que me prendia ao meu mundo, onde eu podia tudo.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Do louco absurdo de permanecer ali parado, ao contrário, de estar mudo, pouco antes de gritar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Cobri dúzias de rosas, que cultivava por seus espinhos, com várias palavras que me lembravam uma canção.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Entreguei a um menino que passava, prometendo que haveria ali algum sorriso, ou, ao menos, um estranho olhar.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Com aquelas pontas, com cuidado, enfeitei a borda da garrafa, afagando minha garganta, com o que dela havia.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Ah, e pude gritar novamente, mas não o fiz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Escorreguei meu corpo pra debaixo de toda aquela terra, pouco a pouco.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Por mera inquietude, não pude perceber o dia se alongando vagarosamente, talvez pra se espreguiçar, como quando a gente quer continuar deitado.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-2937525163848605982009-07-08T05:25:00.001-07:002009-07-08T05:25:50.163-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Dormi quase congelando.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Geladeira de porta aberta, corpo quase nu, cabelos molhados, dedos enrugados.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Encolhido.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Não tinha pressa pra me perder no sono.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Dois grandes baldes pendurados no teto.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Grades de proteção embaixo da cama.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Rolo para todos os lados, amasso mais um papel.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Idéias absurdas.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Tantas paredes me prendendo, e todos os tormentos aqui comigo.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Levanto por um momento, meço a distancia entre mim e o fim do quarto.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Começo a abrir uma nova porta que dê para o próximo cômodo.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Devagar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Martelo algumas moedas na parede, enfeito a mesa com poeira, distorço o silêncio redundante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Boto meias sujas, cumpro a história para cada ruga, escrevendo delicadamente, cada contorno.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8867198298161904290.post-90243983192033906582009-07-07T07:53:00.000-07:002009-07-07T07:54:35.259-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Medi dois dedos e outra dose completa. Enchi o regador.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Embebedei o alimento pronto pra colher.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Feijões deleitosos, milhos corados e ervas de conversas mansas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Entupi de sopros uma garrafa enquanto a esvaziava.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Antes um gole pro santo, que já me concede milagres atrapalhados.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Um lago no meio da sala, nuvens de chuva no banheiro, dia que se esquece lá fora.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>E o papo que não acaba nessa horta ensopada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mudo o sol de lugar, carrego as horas nos ombros para escondê-las atrás da árvore.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Invento folhas caindo e arrasto as pedras pro caminho.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Sorrio.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Tropeço até encontrar a porta.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Desenho meu rosto de cabelo comprido alcançando a janela.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Aprendo a caminhar com os sapatos que tenho.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Enquanto o santo soluça intenções, invento as canções que esqueci.<span style="mso-spacerun:yes"> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O vento vem chegando, sem soprar muito forte.<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Enfrento de peito aberto, tremendo de frio.</p>Evandro Marqueshttp://www.blogger.com/profile/15760850819228052575noreply@blogger.com0