terça-feira, 30 de junho de 2009

Levanto pedindo refúgio, como num dia que não se quer acordar, ou se acorda tarde demais. Meu rosto pálido, mas com vida – hoje sim, sem dúvida, com vida – na pia do banheiro. Um cinzeiro vazio ao lado, não fumo!.. ou já me esqueci disso.

Pés descalços no chão quente. Um gole de café. Dois, três.. e mais outro. Ainda preciso acordar. Farejo a horta lá fora que costuma não crescer. Cavo, adubo, rego, planto, mas ainda não colho nada, mas isso não importa. Mais um pouco de água que deixo correr. E mais café...

Esfrego meu peito, estico os braços, olho pra longe e paro. Pessoas passam e eu ali, como espantalho, fingindo trabalhar, queimando ao sol. Sobrancelha grossa que coça com uma mosca. Um bom dia, algumas aspirinas e meu rosto ainda pálido. Outro copo de café, este com whisky, e agora sim, saio para colher.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Não! Não fujo nem corro. Estou morto!

E no meio de meu cortejo, levanto-me, como dum sono, quase superficial. Ninguém gritou e nem havia porque me assustar também. Nem dei bom dia, não por não saber se era manhã ou tarde, mas por todos já saberem mesmo do meu mal humor. Mas fiquei feliz ao ver meu chapéu de palha na mão de alguém que não fiz esforço pra reconhecer.

Voltei pra casa. Ninguém perguntou nada, também não responderia. Ninguém veio me visitar. Não me lembro o que houve, só da onde estava, mas não dou conta de pensar nisso. Pouco importa. Minha cadeira, cigarro de palha, o passarinho que tenho certeza que é o mesmo todos os dias, apesar de hoje ele estar em silêncio, o sol quente, a rua quase vazia, sem que ninguém me olhe e sem que eu me importe.

Só não entendi porque dessas roupas surradas e o pé com essas botas. Ainda bem que não havia rosas e nem espinhos. Ainda bem que ninguém chorou, nem eu me lamentei.

Mais um gole que desce arranhando a garganta, o cheiro da terra que deveria ter molhado e a tarde, que finalmente acabou. Levanto-me e percebo o algodão em meus ouvidos.