terça-feira, 15 de setembro de 2009

Nem todos os caminhos são limpos pelos passos arrastados, cheios do peso inconstante do repentino solavanco da cabeça, que bebe, gira, bate e pensa... pensa repetidamente, deixando escapar vespertinos receios.

Algumas poses para os tomates acanhados que há meses não perdem sua cor. Enquanto sento no muro, observando a rua. Por lá sempre passam duas pessoas.

Ainda tomo meus comprimidos, mesmo depois de curado, almoço sempre sentado no meio do nada, como apressado. Ando de lado quando não sei pra onde ir.

Me assombra a alegria da tarde, o cheiro de café torrado, as flores que giram como se fosse primavera, a água que ondula, arrastada pelo vento que não sobra. Os cabelos molhados, a casa torta, o canto que vem dos pássaros sempre que as vozes se calam.

E lá se vão os dois, como se fossem sozinhos. E eu cá, como se nunca estivesse. Conto onze clichês para cada passo dado, e um bocado de insanidade pra acabar com o que havia traçado. Talvez já se baste uma por diferença.

Anoto o sonho e escondo o papel. A idéia é não acordar, ou descobrir que nunca estive sonhando.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Despejo-me conscientemente do que vestia. Sinto frio, um arrepio sussurrando pelo corpo sem trajes. Assoviei uma melodia repetidas vezes, até que de fato grudasse no meu ouvido, e não precisasse mais usar a boca.

Enfileirei o gnomo que sobrou com alguns montinhos de barro, fingindo serem soldados num desfile, que descia em volta de toda horta, exibindo armas feitas de gravetos. Sem jeito, tropecei por cima de alguns, que não demoraram a atacar-me no calcanhar. Deitei ao lado de um saco de mangas e das rosas nascendo, ainda em botão, engolindo certas doses de cheiro bom. Mão no coração, outra tampando os olhos, fluindo ainda aquela canção.

Poupei o resto do tempo dos meus pensamentos. Reprimi um espirro. Tingi meu corpo de vermelho enquanto olhava-o no espelho. Não era bem nada, minha mente voava. Nem mesmo sei se não era outro eu. Ou alguém que não reconheci e me espiava. Era puro engano. Talvez isso. Porque todas as incertezas já foram ditas, e a verdade ainda se vestia.