segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Não me queira mais do que já posso ser. Despeço-me do meu corpo quente, delirando nu num passeio até o lago. Mas dele, quase nada. Rego tranquilamente suas margens, podo as pedras e colho a lama densa que se forma em dias quase escuros.

Desço até perto do muro e me encolho. Finjo fugir do frio que faz, enquanto observo tantos “efes” se espalhando pelo quintal. Alguns me cutucam enquanto me distraio com as vozes passando vagarosamente pela rua.

Coço meus pés e pernas, sujas com qualquer coisa que desconheço. Perco-me de todos que se ausentaram e que continuam aqui escondidas duma forma que somente eu as reconheço. Não chamo sua atenção, mas toda noite despeço-me de cada um, ainda que ninguém saiba. Mas a mim basta o “bom dia” do outro dia que deveria receber.

Se são folhas ou flores eu quase nunca sei. Gota-de-orvalho sempre seca que nascem debaixo do que restou da outrora capela que agora jaz de cabeça baixa, sorrindo ainda algumas poucas liturgias. Outro dia cruzei com um santo que fedia lágrimas. Cambaleava enquanto carregava um saco cheio. De mal humor, ou com a costumeira preterição, passou sem nem me reconhecer. Tanto faz, porque também não sei o que lá fazia.

Atravessei o quintal novamente e voltei ao ignoto ventre que escondo entre os livros que me leem.

Um comentário:

  1. Sempre me faço encantada ao ler você, meus olhos sorriem a cada palavra...

    Beijos confessos

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