terça-feira, 8 de setembro de 2009

Despejo-me conscientemente do que vestia. Sinto frio, um arrepio sussurrando pelo corpo sem trajes. Assoviei uma melodia repetidas vezes, até que de fato grudasse no meu ouvido, e não precisasse mais usar a boca.

Enfileirei o gnomo que sobrou com alguns montinhos de barro, fingindo serem soldados num desfile, que descia em volta de toda horta, exibindo armas feitas de gravetos. Sem jeito, tropecei por cima de alguns, que não demoraram a atacar-me no calcanhar. Deitei ao lado de um saco de mangas e das rosas nascendo, ainda em botão, engolindo certas doses de cheiro bom. Mão no coração, outra tampando os olhos, fluindo ainda aquela canção.

Poupei o resto do tempo dos meus pensamentos. Reprimi um espirro. Tingi meu corpo de vermelho enquanto olhava-o no espelho. Não era bem nada, minha mente voava. Nem mesmo sei se não era outro eu. Ou alguém que não reconheci e me espiava. Era puro engano. Talvez isso. Porque todas as incertezas já foram ditas, e a verdade ainda se vestia.

12 comentários:

  1. "Nem mesmo sei se não era outro eu." Os espelhos muitas vezes nos revelam vários "eus". O bom é quando convivemos harmoniosamente com tantas faces que a vida nos apresenta.

    Seu texto me fez lembrar o poema de Mário Quintana que está no meu blog:

    "Qualquer idéia que te agrade,
    Por isso mesmo ... é tua.
    O autor nada mais fez que vestir a
    verdade
    Que dentro em ti se achava
    inteiramente nua..."

    Bj

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  2. interessante como toda vez que venho aqui, leio seu texto e me lembro de um livro.

    agora lembrei de Ciranda de Pedra, por causa dos gnomos.

    bj bj

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  3. Assoviei uma melodia repetidas vezes, até que de fato grudasse no meu ouvido, e não precisasse mais usar a boca. adorei. O que te inspira?

    Se puder comente também:
    http://rapidoeindolor.blogspot.com/

    (Mundo de Natty) muiito obrigada!

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  4. João,

    Gosto dessas sua cores, desses desenhos que estampam minha mente enquanto te leio.

    É mágico.

    Beijo

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  5. Suas palavras simplesmente fluem..
    e cada cenario, é um verdadeiro despertas de cores!
    Irresitivel..

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  6. "...Porque todas as incertezas já foram ditas, e a verdade ainda se vestia."

    Quanta magia real em seus textos... A cada leitura sempre algo surpreendente, sensações inusitadas... Adoro ler você.



    Beijos vestidos de verdade...

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  7. È impressionante o uso de suas palavras para descrever as coisas simples....e como usa tão bem para descrever os teus sentimentos...fico encantado...


    Ademerson Novais de Andrade

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  8. Era puro engano. Talvez isso. Porque todas as incertezas já foram ditas, e a verdade ainda se vestia.

    essa parte valeo o texto tdo
    muito profundo;

    bejos

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  9. A verdade se veste, às vezes, da mais cruel mentira... só para nos testar.

    Abs meu caro,






    dogMas...
    dos atos, fatos e mitos...

    http://do-gmas.blogspot.com/

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  10. Perfeito o texto.
    Me perdi nas palavras.

    =D

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  11. Sentir frio não é lá uma coisa muito boa. Se agasalhe. beijos

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  12. As vezes me sinto estranha em frente ao espelho, como se realmente fosse outra pessoa a me analisar. Bipolaridade ou apenas vazio interior? Ainda não sei a resposta...

    Abraço.

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